quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A legítima defesa.


Se a verdade nos libertará,

Libertemo-la primeiro

Arrumemos um habeas-corpus

Ou subornemos o carcereiro...

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Insônia (05/01/2007RJ 2:42 A.M.)


Acho que o sono não vem hoje.

O danado vai fazer fortait!

Deve estar por aí, na putaria.

Com certeza arrumou um affair,

Desses onde a gente se lambuza

Até o raiar do dia levar embora.

E eu sozinha, neste quarto onde nem a luz entra

- Minha angústia, parece, a apavora -

Percorro em reviravoltas quilômetros de lençóis.

Eles enroscados em meu corpo

Como a explorar meus contornos,

Aproveitando a oportunidade de estarmos a sós

Para procurar novidades

Por entre minhas protuberâncias e cavidades.

Desvencilho-me.

Meu sofrimento é corno, arredio, passional, perigoso.

O fastio não permite o gozo por um qualquer desejo abjeto,

Sequer derrama uma só gota de afeto.

Na boca reclama a azia desse tesão indigesto

Que atiça os miolos e me toma por escrava.

Outra vez fecho os olhos

O sono não vem

Só me vêm palavras.

Pudesse mandar-lhe um recado, diria agora:

Se vais chegar atrasado, nem dê-se ao trabalho de vir!

Ousa, e mandar-te-ei embora!

Pudesse ele ouvir, calaria em um sorriso

Por conhecer de mim tão bem por dentro e por fora

E saber o quanto dele preciso.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Erro de perspectiva.



Tem gente que ainda acha a vida um saco. O saco foi antes...

Pensando com os botões...


Almoçava calmamente, quando a TV do restaurante mostrou uma manifestação de repúdio ao ato criminoso do qual foi vítima o menino João. Na mesa ao lado, dois casais conversavam. Tão logo a reportagem começou a ser exibida, um dos homens, vestido com a camisa da seleção brasileira, bradou: “-De novo? Já não agüento mais isso, todo mundo agora quer aparecer!”. Lembrei de ter ouvido de um psicólogo a tese de que quem pratica atividades perigosas refuta em visitar companheiros acidentados. É admitir a indesejável proximidade da fatalidade. Aquele sujeito era metáfora perfeita de um país cujo único controle capaz de aliviar as mazelas é o remoto. Zapeamos em direção à segurança de uma minissérie, filme, videoclipe, daquele documentário sobre as – bem menos selvagens - savanas africanas ou até de uma reportagem sobre os conflitos no Oriente Médio, igualmente sangrentos, mas atenuantemente longínquos das nossas lágrimas nada ficcionais. Ok, admito: Nas manifestações sempre existem as pessoas que nem suspeitam do motivo da mobilização, mas gostam dos flashes, das câmeras. Mas, e daí? Tanta gente só aparece em escândalos, factóides, maracutaias ou – quase tão ruim - não aparece nunca, para nada. Pelo menos os surfistas deste tsunami de violência fazem número com os legitimamente indignados para uma causa justa. Penso com meus botões (não os do controle remoto): Será que o cara do restaurante cansa de rever os gols do último campeonato?

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Aliás...



Sozinha, depois que todos morrerem, de que
adiantará a esperança?

Luto? Então, Lutemos!


Estamos de luto. A cada esquina, nossas famílias têm menos pais, mães, filhos. Somos todos órfãos de paz em minutos de silêncio e longas horas de desespero. Mas ‘LUTO’, esse substantivo, precisa crescer, virar verbo. Então, LUTEMOS! O direito à barbárie não é humano, é uma aberração inominável cuja alcunha não deve ofender inocentes animais. Quem reduzirá NOSSA pena a um terço, que seja? Somos condenados por bom comportamento! Por acreditarmos na justiça, por sonharmos com segurança para passearmos com nossas famílias. Vivemos em uma nação arrastada pelo crime. A corrupção, a impunidade e todos os desmandos renderam nosso destino e dirigem o bonde da história na contramão do desenvolvimento, em uma via de radares fora de alcance e pardais abatidos a tiros. Brasil? Não! Este país, a partir de agora, deveria se chamar João!

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Adoro você! A não ser que...


Os sentimentos são iguais à comissão de frente da Mangueira: trocam de roupa várias vezes durante o desfile. Somos volúveis ao eleger os anjos e os demônios encarnados nas coisas ao redor. Digo “coisas”’, porque o alvo de nosso contentamento ou repulsa nem sempre é uma pessoa ou animal. Pode ser o celular, cujas barras de sinal teimam em desaparecer justamente no momento daquela ligação importantíssima, que já durava dez minutos entre mensagens e esperas, tentando solicitar o conserto do telefone fixo, inexplicavelmente mudo. Depois de passar seus dados para quatro operadores diferentes, a ligação cai impiedosamente e você levanta o braço para arremessar longe o aparelho. Nesse momento, como por milagre, as barras voltam a aparecer e a esperança também. O jeito é segurar o braço na posição e tentar falar com a companhia, mesmo isso significando passar mais vinte minutos sobre a mesinha de centro. Por fim, visita agendada e esquecida a angústia das seguidas tentativas, o celular volta a ocupar o espaço cativo no bolso ou bolsa, recuperando seu status de “indispensável”. Notaram? O aparelhinho foi do inferno ao céu e nem saiu da mão! Alcance maior, impossível.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Sar...all (Um encontro de universos e prosas)


- Será que vai demorar pra começar? Amanhã preciso acordar cedo.
- Conheço você de algum lugar, será...Milão?
- Brigado, posso fruta não...
- Japão?
- Também nada de carbs, tô numa dieta fina, só proteína até o reveillon. Talvez assim consiga caber, sem muito me espremer, naquele lindo conjuntinho marrom com detalhes brancos e dourados.
- Isso já resolvi: fiz uma lipo dos lados, aqui na frente, e tenho um personal muito competente. Sua dieta quem receitou? Qual nutricionista?
- Nenhum. Copiei da revista de uma amiga do consultório.
- Não diga. Você é médica?
- Recepcionista da clínica do Dr. Gregório, sabe qual é? Aquela grande, perto do posto três?
- Sei. Da minha casa dá para ir a pé.
- Sorte sua. Da minha demora, de uma hora e meia a duas. Mas venho para a queima de fogos, estou doida que chegue logo... E você, também fica em Copacabana?
- Londres, na próxima semana, depois, New York, aí parto para a Coréia do Sul. Você?
- Paris, avenida em Bonsucesso. Lá mora uma tia, velhinha, de quem sempre me despeço. – Insistência dela, não minha . Passo em Copa e vou direto para Nova Iguaçu.
- Uh!
- Que foi? Pisei em você?
- Nada. Acho que foi o patê...com licença, prazer em conhecer.

(18122006)