quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Cai o pano.


Lentamente fecham-se as cortinas



Enquanto desce as escadas,



Dissolvendo-se na escuridão rumo à coxia.



Uma breve pausa no caminho



Para lançar o olhar cansado sobre os ombros



Como a tentar alcançar um passado, recente,



Mas, inapelavelmente passado.



Cai uma lágrima,



Enquanto aperta contra o peito



A bolsa de couro rústico,



Sua herança de memórias,



Alegrias, tristezas e tudo mais



A que se permitem os humanos.



A cortina abre-se novamente



E a claridade explode em sons,



Sinos e cânticos, estilhaçando-se



Em cores, cheiros e sabores de festa,



Empurrando-o de vez para os bastidores.



É o que resta:



Tempo de descansar.



É hora de deixar outro ano brilhar.






Feliz 2011 para todos!!!! Que vocês sejam felizes, compreendendo que isso nem sempre significa a realização de todos os desejos. Tem um 'cara' que sabe melhor do que nós qual caminho devemos seguir. É só confiar nele...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Desejo antigo.


Descanse em paz.






No Regrets


Eu não quero ter mais tempo

Não quero ter tido ou dito

Mais ou menos de nada

Não contabilizo momentos

Não coloco em uma despensa

Potes com sentimentos.


Minha vida não tem retrovisor

Para as lamentações

Desilusões e dor.

Às vezes, apenas repasso as ruas

Por onde fui feliz:

Por elas tenho apreço.

Sigo depois, sem mais,

Para um novo endereço.


Não coloco preço no meu sucesso,

Não peço milagres,

Minha fé melhor não é

Que a de ninguém,

Não sou quem diz

As maiores verdades

Ou guardo os piores segredos.

Não dou ouvidos

A todos que me chamam.

Tenho medo de ser esquecido,

Mas apenas pelos que me amam.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A poesia perdida (SP 28/03/2010).


Em um quarto de hotel,

As coisas espalhadas.

O copo vazio

- Não meio cheio.

E eu tentando juntar-me.

Celular, ipod, laptop conectados

Eu não:

Umplugged do mundo,

Olho o céu escuro de São Paulo.

São nove horas no oitavo andar.

Ponho-me a perambular,

Ir, voltar e batucar nas teclas

O som das idéias tentando fugir.

Capturo algumas.

Outras realmente se perdem,

Como a de hoje, na sala de embarque.

Era linda,

Mas eu não registrei,

Não a sussurrei no gravador do celular

Não fiz nenhuma mísera anotação,

Sequer um garrancho

Em um pedaço amassado de papel.

E agora ela está irremediavelmente perdida

Como a luz no escuro desse céu.

Eu a perdi como se perdem

Todos os possíveis grandes amores:

Não disse que a queria,

O quanto era importante para mim,

Quanto significado carregava

Em suas poucas palavras,

Em sua efêmera história.

Definitivamente,

Meu coração odeia minha memória.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Crime e castigo

As coisas feitas em nome da poesia?

Cometemos verdadeiras atrocidades

Casando palavras inconciliáveis

“– Todas as tardes esperava-te... E escrevia-lhe como se noite fosse por dias
incontáveis...”

Percebestes o absurdo?

Tento deter a caneta

Ao incontrolável desejo de escrever algo terminado em... MUDO!

Sou dos criminosos confessos:

Rimo amor com dor,

Alegria e apatia,

Rimo a moça bela, à luz da vela

Debruçada sobre o peitoril da janela

Na casa pequena de portas amarelas.

Mas há dias nos quais rimo nada,

Apenas idéias sem eira nem beira,

Palavras sem parentesco explícito,

(Talvez com um DNA...)

Nuvens nubladas por suas irmãs,

Reunidas mais perto do chão,

Dão-me a sensação de estar prestes a me molhar.

Odeio guarda-chuvas!

Sinto-me um idiota de cabelos secos

Encharcado do pescoço para baixo

Por uma zombeteira ventania.

As hastes finalmente dobram-se

À força do vento,

Os sinos da igreja também dobram

Como a rirem-se de mim.

Comecei arretado, acreditando-me um verdadeiro repentista,

Por fim pode ser até merecido, o resfriado.



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nem sempre é possível rimar poesia com alegria.


O ruim de ser uma pessoa inquieta

É sentir-se profundamente desconfortável

Com a própria zona de conforto.

É ser um navio sem âncora,

Sem porto.

É o eterno balançar das pernas,

Bambas por não saberem esperar.

É o respirar curto e apressado

No qual o ar nem bem é saboreado

Pelas árvores alveolares no peito.

É um pleito pelos momentos novos

Quando estes nem velhos ficaram ainda.

Quando, nem finda tarde,

Quero lua,

Quero sol,

Quero viver com uma pressa de escrever,

De cantar,

De dançar,

De correr,

De amar.

Uma pressa que não é minha,

E talvez por isso apresse-me em passá-la adiante.

Tenho esperança de que a idade

Vá mandando a ansiedade embora.

Mas ela já está chegando,

Sem hora, mas com rugas marcadas.

E eu continuo perdendo a razão

Para o medo de perder tempo.

A insanidade de ser feliz com todos

E triste consigo mesmo.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Enfim, um dia. (DF, 29062010)


Acordei velho.


Ontem não era.


Trocaram-me, dormindo,


Por esse corpo enrugado


Que me olha do espelho,


Nu, sem pêlo.


Sinto as gengivas baterem


No mesmo ritmo do frio


A maltratar minhas juntas.


Arrasto os pés pelo chão gelado


Até perto da cama.


Visto um pijama de flanela


Enquanto vejo, pela janela,


O jovem que eu era


Desaparecendo no final da rua.


Com as mãos trêmulas,


Pego papel e caneta


E vou até a escrivaninha.


Debruço-me sobre a folha.


Ela espera-me como uma virgem,


Pálida.


Nada.


Estou impotente ante seus apelos.


Da minha cabeça


Não brotam mais palavras,


Apenas caem ralos fios de cabelo.



Despedida (DF, 29062010)


Vou embora.


Já estou atrasado para rir de tudo,


Jogar fora as fotos


Que ora tomam espaço sobre o criado-mudo.


Não faço a mínima questão de ocupar


Minhas memórias com suas máximas.


Tenho pás ao invés de mãos,


E um coração livre de arrependimentos.


E isso é tudo que preciso para enterrar nossos momentos


Nas covas de seu falso sorriso.


Dedicar-te-ei estas últimas linhas


Apenas para dizer que, de você,


A ausência é o maior presente.


Não há mais gestos cujos gastos justifiquem-se.


Nada sobrou: Nem pena, tampouco pedras,


Qualquer saudade,


Ou mesmo um pingo sequer de maldade.


Sei que não será fácil,


Mas aceite estas palavras minhas.


Elas são a verdade que falta


Entre as breves linhas do seu epitáfio.



segunda-feira, 28 de junho de 2010

A verdade sobre as crianças


Quando era criança,


Tinha tempo para ver o tempo passar


Era brincadeira o sol,


O sal,


O céu,


O mar.


O projeto que hoje a vida permeia


Era apenas um belo,


Singelo castelo nas brancas areias do Grumari.


O, hoje, cidadão,


Um guri de cabelos desgrenhados


Com balde e pá nas mãos,


Acompanhando o movimento ritmado


Dos ventos e das marés


Com os pés dentro d’água,


Sem mágoas cheias ou vazantes,


Passado em fotos nas cabeceiras,


Paredes, estantes.


As crianças não são


Simples seres humanos.


Vejo-as brincar intimamente


Com as belezas do mundo


E aquele instante


Parece durar eternamente.


Vejo meu reflexo


Naqueles olhos sempre atentos:


Os olhos das verdadeiras donas do tempo.


domingo, 9 de maio de 2010

Uma linda propaganda

Isso é o que acontece quando a excelência da direção e o talento dos atores encontra a química perfeita. É uma das mais belos VTs que já vi. Parabéns ao Marketing da GM e sua agência de propaganda.


domingo, 2 de maio de 2010

Enquanto a chuva não vem




Em 7/4/2010, de Tamandaré - PE



Minha alma chora

Vejo o Rio de Janeiro

Esvaindo-se na água barrenta,

Nas lágrimas,

Nos gritos

Dos que não mais agüentam

A rotina de desenterrar casas

E enterrar pessoas.



Eu vejo as imagens na TV na distante segurança de um ensolarado dia de férias. Sinto-me terrivelmente culpado. Lembro do dia em que minha casa foi levemente invadida pela água. Na ocasião, nada se perdeu. Mesmo assim, era terrível a impotência de ver a água subindo. Escuto os locutores dos telejornais declararem ser a pior chuva dos últimos quarenta anos na cidade. Já presenciei algumas bem ruins também. Assisto as imagens das pessoas desesperadas e revoltadas. Revoltadas com os céus e com o governador, esse último por ter jogado a culpa das mortes nos próprios moradores das áreas de risco. Revoltante? Revoltante e injusto. A culpa não é só deles. As chuvas tendem a piorar, dadas as alterações climáticas provocadas por nós mesmos, no mundo inteiro. As enchentes também, pela maneira como emporcalhamos as cidades, entupindo os bueiros quando precisamos deles. Por isso me sinto culpado. Somos um bando de irresponsáveis cobrando responsabilidade. É triste contabilizarmos os mortos, mas não pensamos neles quando jogamos fora os sacos e garrafas plásticas sem nos importarmos para onde irão. Se forem formar uma ilha de sujeira no meio do oceano, aonde nunca iremos, tudo bem. O problema é quando resolvem nos acordar no meio da noite.


domingo, 14 de março de 2010

O Crupiê de Lembranças (DF 14/03/2010)


Passaram por mim

As priscas eras

E primaveris infernais outonos.

Ao abandono das folhas

Deixavam-me as caras companhias

Como os copos quebrados

Saudadeavam a cristaleira vazia,

De onde São Francisco

Tudo assistia.

Um olhar de barro

Sobre a poeira das ausências.

Os remédios sobre a cômoda

Dão-me a incômoda sensação

De estar trapaceando.

Ainda ando, trôpego,

Tropeçando nos degraus

Dos portais,

Os quais só notei

Depois dos setenta e muitos anos.

Ou mais.

Meu olhar embaçado

Tenta distinguir em fotos velhas

Os traços finos,

Idos da época em que o cristalino

Ainda não havia me traído.

Pergunto a Deus,

Aos anjos e santos

O que fiz para merecer isso.

O que fiz para viver tanto?

Não quero mais

Fazer parte da história.

Antes, jogava cartas.

Hoje apenas embaralho memórias.



quarta-feira, 3 de março de 2010

De volta à ativa...



A poesia é de quem lê (DF, 02/03/2010)


Já andei por becos,


Bocas, línguas e dedos;


Arranquei suspiros,


Gemidos,


Apelos;


Atraí olhares


De faces distintas;


Sorvi lágrimas servidas


Em meu já servido papel.


Entendi quem errou


Tentando me entender,


Pois eu mesmo já não consigo


Decifrar as linhas,


Outrora minhas,


Agora tão seqüestradas


Por outros sentidos.


É tarde:


Pouco importa o que eu queria dizer


De nada interessa no quê acredito.


A poesia só era minha


Enquanto não a havia escrito.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mais música...

Farra depois do trabalho...

Guitarras: Sandro e Thales

Baixo: Marcelo

Bateria: Plínio

Teclado: Gustavo

Vocal: Alexandre

Filmagem, água, cerveja: JP (o pai do Thales)


New Year's Day - U2



Like a Stone - Audioslave



Diversão/Comida - Titãs