sábado, 14 de abril de 2007

Se há Deus, a Deus. Ou então... Adeus!

Corri para a rua no primeiro tiro,

A tempo de ver o carro dobrando a esquina.

Ouvi o distanciar do bangue-bangue

Enquanto enrolava-se em agonia e sangue

O corpo esguio da menina.

Pararam um táxi para prestar socorro.

Acomodaram-na com cuidado,

Usando uma colcha emprestada como forro.

A polícia chegou,

Ninguém viu nada,

Todo mundo nada sabia.

A única testemunha era o sangue no passeio

Por onde passeávamos todos os dias.

No breve silêncio desta soluçante realidade

Só me resta ter saudade de outros barulhos:

Das crianças brincando de bola,

Pique, carniça, saladas mistas tendenciosas,

De inocentes polícia e ladrão.

Da sineta do pipoqueiro,

Do carrinho de sorvete,

Da cigarra na bicicleta do garoto trazendo o pão.

Valha-nos o Deus destas cidades!

Do meio-fio da navalha por onde andava o sossego,

Antes de ser pego de surpresa

E tombado sobre o tabuleiro pintado

No tampo de pedra da mesa.

Existe hoje no local um modesto altar

Onde pedem graças os desvalidos,

Diante uma pequena cruz e algumas imagens,

Velas acesas e pedaços de papel com pedidos e mensagens,

Todas elas fartas em fé e sofrimento.

- Continuam sendo feitas apostas naquela placa de cimento.

Valha-nos o Deus dos lares de paredes finas,

Das janelas sem blindagem e sem cortinas.

Dos túneis, vias, dos bares pela cidade,

Dos bordéis, motéis e até da Igrejinha da comunidade,

Onde a celebração matutina foi interrompida

Quando uma bala perdida estilhaçou os vitrais,

Partindo em pedaços a imagem da pomba da paz.

O povo tentou juntar os cacos

Mas eles não se encaixavam mais.



domingo, 8 de abril de 2007

...

Todos nossos problemas, provações,
As provocações do destino
São pequenos grãos dos grãos de areia
Comparados aos sofridos por aquele menino,
Saudado por reis,
E traído por seu próprio povo.
Lembrem disso,
Sempre que pensarem em desistir de novo.


Boa Páscoa .