quinta-feira, 24 de abril de 2008

Voltei (DF, 24042008)

Voltei-me e deixei o presente virar passado,

Virar saudade,

Virar carinho,

Virar uma sensação de fracasso

Por não ter feito por outrem

O que fizeram por mim.

E assim continuo,

Amando todos que amei:

A vó, o vô, os tios, tias, primos, primas,

Os amigos que foram para o andar de cima.

A, espero um dia, grande amiga,

Cuja felicidade desejo mais que a minha.

Eu vinha ontem, pela estrada,

Pensando na covardia,

Na acomodada cegueira,

Em nada incomodada por uma antiga ferida,

Teimosa a tal ponto de, por um triz,

Recusar-se veementemente a virar cicatriz.

Vou adiante do revés que eu mesmo causei,

Não nego,

Tão pouco digo que, fosse outra vez, faria não.

Tenho a certeza ofertada

Pela nua, crua e dolorosa constatação.

Sigo a vida,

Mas não mudo o viés.

Triste pela minha e pelas outras almas partidas

Das quais desvio na ponta dos pés.