“- O que havia para se dizer já foi dito, tudo agora será repetição”, pensei. Mas não é repetida a barbárie? Então, porque não posso? Não havia sentido vontade de dizer ou pensar nada. Tampouco rezei, achei o Senhor um pouco surdo ontem. Tenho seu perdão pela minha ignorância, sei. Não é proposital a letargia, essa vontade de sentar no chão e chorar até virar poça d’água. Essa mágoa por não poder ter feito ou dito algo capaz de evitar o fato, eufemismo para “tragédia”. É vergonha pura de ser humano, e precisar apelar para não virar estatística, para não ser desvalorizado pelo que possui. É o contrário? Não creio. Quanto mais temos, mais o que temos vale mais do que nós mesmos. Uma moto, um computador, um celular... Tudo é “causa provável” para surrupiar a vida de alguém. Aí apelamos para a justiça, para o governo e para o criador. Uns dizem: “- Deus assim quis.” Mais uma vez, proíbo-me de crer nisso. É sacanagem, um curativo bem sem-vergonha essa história de destino. A idéia do livre-arbítrio não dá a Deus a responsabilidade pela fraqueza, maldade e mau-caratismo de seus filhos, mesmo os mais bastardos. A culpa é de todos nós, por termos transformado a vida nesse trem sem freio onde não enxergamos nada, só o objetivo: Termos mais. Isso acontece todo dia. Vemos pela TV, controlando nossa exposição através do controle remoto. Hoje aconteceu aqui do lado, e estamos chocados, pois o controle remoto não está à mão para zapearmos em busca de uma programação mais segura. Tentando acreditar, repetimos o mantra : “-A vida continua”. Para nosso amigo, com certeza. Para nós, já parou faz tempo.
Esteja na paz de Deus, meu amigo. Por enquanto, ficamos aqui na guerra.