O menino espiava a ruazinha de barro,
Em fervilhante agitação.
Fazia mais sentido a bituca de cigarro
Queimando seus últimos suspiros sem um pingo de inspiração,
Apenas a lembrança da boca, das mãos.
Observava o vai-e-vem incessante dos
Carrinhos com garrafas
De pinga, cerveja, refrigerante,
Ora cheias, ora vazias
E até um leitão morto, dentre
Muitas outras coisas que não distinguia.
Via gente vindo de todos os lados
Em roupas de domingo.
Vinham a pé, no lombo de burricos,
Ou em uma pequena charrete
Conduzida por um senhor de barba branca
Que fumava cachimbo e usava chapéu -
A imagem de menor distância
Entre sua infância e Papai Noel.
O dia passou com os calcanhares passando, suas vozes distintas
Entrecortando o silêncio da poeira aquietando-se no chão,
Até a noite esparramar sobre céu
Seu profundo azul escuro,
Eventualmente espocado por um bissexto rojão.
Através de retalhos bruxuleantes
No breu mais puro dos casebres sem eletricidade,
Via pessoas em volta de mesas,
Servindo-se de alegria em quantidade
– Pareciam vagalumear pela pequena cidade! -
Iluminou-lhe a face um sorriso acidental,
Rapidamente apagado.
Ele continuou ali, sem um minúsculo músculo mover,
Como se houvessem entregue
Em endereço errado o seu convite para viver.
Esperou, esperou cada segundo restante da
Sua angústia genuína
Com seus olhinhos fixos na esquina.
Soaram as badaladas
Em dueto com seu pequeno coração.
Até a décima segunda toada,
Um dó de peito doído de saudade, roxa de tão sufocada...
Do olhar doce no rosto sofrido,
Do colo quentinho, das mãos,
Da voz suave no ouvido:
“- Dorme, filho.”
Trinta e um acabara na contagem em cantilena,
Acompanhando, ao longe, o som da TV preto e branco
Com um chumaço de palha de aço na antena.
O menino imóvel permanecia, sem entender:
Do que tanto ria e festejava esse povo,
Se não passara por ele o tal do ‘Ano Novo’?