Voltei-me e deixei o presente virar passado,
Virar saudade,
Virar carinho,
Virar uma sensação de fracasso
Por não ter feito por outrem
O que fizeram por mim.
E assim continuo,
Amando todos que amei:
A vó, o vô, os tios, tias, primos, primas,
Os amigos que foram para o andar de cima.
A, espero um dia, grande amiga,
Cuja felicidade desejo mais que a minha.
Eu vinha ontem, pela estrada,
Pensando na covardia,
Na acomodada cegueira,
Em nada incomodada por uma antiga ferida,
Teimosa a tal ponto de, por um triz,
Recusar-se veementemente a virar cicatriz.
Vou adiante do revés que eu mesmo causei,
Não nego,
Tão pouco digo que, fosse outra vez, faria não.
Tenho a certeza ofertada
Pela nua, crua e dolorosa constatação.
Sigo a vida,
Mas não mudo o viés.
Triste pela minha e pelas outras almas partidas
Das quais desvio na ponta dos pés.