sexta-feira, 15 de junho de 2012

Infância Roubada


O menino de ontem traz no rosto,
Tatuado, um sorriso
Como se sorrir fosse como respirar
Um movimento involuntário,
Inadiável e preciso.

A apnéia revela em seus olhos
Sombras de um presente roubado,
Vislumbrado ao longe.
O menino de hoje tem os sentidos anestesiados.
Talvez por isso pareça
Ter a paciência de um monge

Os meninos de ontem e de hoje
Por vezes brigam como irmãos,
Culpam-se, choram de vergonha
Enquanto escondem os rostos
Nas palmas das mãos.

Cada ser humano é um microcosmo
Revestido com a frieza
Das entranhas das suas próprias tragédias.
Ingresso que não dá direito a matar
Ou por vontade própria, morrer.
No máximo é a obrigação
De abrir os olhos todos os dias
Enquanto o coração bater,
Levando no fundo da carteira
Uma desculpa para sofrer.

Descomunal é a injustiça
De terem os meninos esse fardo
Quando, ao invés do ladrão,
São eles os condenados.