Sempre li sonetos. São difíceis de dizer sem aquele tom declamatório, por causa da rígida métrica. Para quem não sabe, cada uma das quatorze linhas de um soneto é composta por dez ou doze sílabas poéticas (não é a mesma separação de sílabas utilizada por nós normalmente). Não vou me alongar para não ficar chato, mas acabei descobrindo que o soneto de doze sílabas(ou dodecassílabo) é também chamado de Alexandrino. Acham o quê? Tive que tentar escrever um, ora bolas. Então, um Alexandrino... Por Alexandre.
Alugado
Hoje passei um dia muito esquisito,
Coalhado numa angústia retinta.
Tomaram-me crenças em que não acredito
- Talvez a mente para mim mesmo minta.
“Coisas” de gente dum pensar erudito
Cujo sentir nada mais saiba ou sinta.
Emprestei então o meu peito contrito
À angústia esvicerada e faminta
Cercou-me, acinturando-me o plexo;
Reles, e emocionadamente sucinta,
Num taciturno e insular amplexo.
Por fim, em sua retina vi meu reflexo.
E ouvi da face pálida e distinta
Um sussurro conformado e desconexo.