Ajudemos os necessitados de felicidade a superarem seus traumas!
Vamos levar-lhes migalhas de alegria,
Envoltas em jornal com notícias boas!
Cairá sobre seus rostos uma calma garoa,
Lavará dos olhos o choro e, do chão, o leite derramado.
Estendamos as mãos
E lhes roubemos das almas os calos das tristes lembranças.
Doemos felicidade
A quem, de dor, doer-se.
Façamos viver de verdade
Quem cotidianamente morre
Pelas mãos impiedosas da saudade.
Prefiramos cada instante dos dias nublados, ao vivo,
Ao sol da foto na estante,
À carta e seus motivos esmaecidos,
Aos momentos por si só mortos
Quando foram, mesmo uma só vez, vividos.
Pergunta-me então se há tanto assim,
Ao ponto de poder doar-se.
Se há em ti tanto de felicidade,
Ou pelo menos o tanto
Quanto existem dois rins.
Mesmo a resposta, no caso de outrem,
Não caber a mim,
Intrometo-me de bom grado.
Exista felicidade,
Mesmo na ponta da unha do menor dedo do pé,
Suficiente já é para a caridade.