terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Caridade


Ajudemos os necessitados de felicidade a superarem seus traumas!

Vamos levar-lhes migalhas de alegria,

Envoltas em jornal com notícias boas!

Cairá sobre seus rostos uma calma garoa,

Lavará dos olhos o choro e, do chão, o leite derramado.

Estendamos as mãos

E lhes roubemos das almas os calos das tristes lembranças.

 

Doemos felicidade

A quem, de dor, doer-se.

Façamos viver de verdade

Quem cotidianamente morre

Pelas mãos impiedosas da saudade.

 

Prefiramos cada instante dos dias nublados, ao vivo,

Ao sol da foto na estante,

À carta e seus motivos esmaecidos,

Aos momentos por si só mortos

Quando foram, mesmo uma só vez, vividos.

 

 Pergunta-me então se há tanto assim,

Ao ponto de poder doar-se.

Se há em ti tanto de felicidade,

Ou pelo menos o tanto

Quanto existem dois rins.

 

Mesmo a resposta, no caso de outrem,

Não caber a mim,

Intrometo-me de bom grado.

Exista felicidade,

Mesmo na ponta da unha do menor dedo do pé,

Suficiente já é para a caridade.

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