segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Crime e castigo

As coisas feitas em nome da poesia?

Cometemos verdadeiras atrocidades

Casando palavras inconciliáveis

“– Todas as tardes esperava-te... E escrevia-lhe como se noite fosse por dias
incontáveis...”

Percebestes o absurdo?

Tento deter a caneta

Ao incontrolável desejo de escrever algo terminado em... MUDO!

Sou dos criminosos confessos:

Rimo amor com dor,

Alegria e apatia,

Rimo a moça bela, à luz da vela

Debruçada sobre o peitoril da janela

Na casa pequena de portas amarelas.

Mas há dias nos quais rimo nada,

Apenas idéias sem eira nem beira,

Palavras sem parentesco explícito,

(Talvez com um DNA...)

Nuvens nubladas por suas irmãs,

Reunidas mais perto do chão,

Dão-me a sensação de estar prestes a me molhar.

Odeio guarda-chuvas!

Sinto-me um idiota de cabelos secos

Encharcado do pescoço para baixo

Por uma zombeteira ventania.

As hastes finalmente dobram-se

À força do vento,

Os sinos da igreja também dobram

Como a rirem-se de mim.

Comecei arretado, acreditando-me um verdadeiro repentista,

Por fim pode ser até merecido, o resfriado.



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Nem sempre é possível rimar poesia com alegria.


O ruim de ser uma pessoa inquieta

É sentir-se profundamente desconfortável

Com a própria zona de conforto.

É ser um navio sem âncora,

Sem porto.

É o eterno balançar das pernas,

Bambas por não saberem esperar.

É o respirar curto e apressado

No qual o ar nem bem é saboreado

Pelas árvores alveolares no peito.

É um pleito pelos momentos novos

Quando estes nem velhos ficaram ainda.

Quando, nem finda tarde,

Quero lua,

Quero sol,

Quero viver com uma pressa de escrever,

De cantar,

De dançar,

De correr,

De amar.

Uma pressa que não é minha,

E talvez por isso apresse-me em passá-la adiante.

Tenho esperança de que a idade

Vá mandando a ansiedade embora.

Mas ela já está chegando,

Sem hora, mas com rugas marcadas.

E eu continuo perdendo a razão

Para o medo de perder tempo.

A insanidade de ser feliz com todos

E triste consigo mesmo.