domingo, 2 de maio de 2010

Enquanto a chuva não vem




Em 7/4/2010, de Tamandaré - PE



Minha alma chora

Vejo o Rio de Janeiro

Esvaindo-se na água barrenta,

Nas lágrimas,

Nos gritos

Dos que não mais agüentam

A rotina de desenterrar casas

E enterrar pessoas.



Eu vejo as imagens na TV na distante segurança de um ensolarado dia de férias. Sinto-me terrivelmente culpado. Lembro do dia em que minha casa foi levemente invadida pela água. Na ocasião, nada se perdeu. Mesmo assim, era terrível a impotência de ver a água subindo. Escuto os locutores dos telejornais declararem ser a pior chuva dos últimos quarenta anos na cidade. Já presenciei algumas bem ruins também. Assisto as imagens das pessoas desesperadas e revoltadas. Revoltadas com os céus e com o governador, esse último por ter jogado a culpa das mortes nos próprios moradores das áreas de risco. Revoltante? Revoltante e injusto. A culpa não é só deles. As chuvas tendem a piorar, dadas as alterações climáticas provocadas por nós mesmos, no mundo inteiro. As enchentes também, pela maneira como emporcalhamos as cidades, entupindo os bueiros quando precisamos deles. Por isso me sinto culpado. Somos um bando de irresponsáveis cobrando responsabilidade. É triste contabilizarmos os mortos, mas não pensamos neles quando jogamos fora os sacos e garrafas plásticas sem nos importarmos para onde irão. Se forem formar uma ilha de sujeira no meio do oceano, aonde nunca iremos, tudo bem. O problema é quando resolvem nos acordar no meio da noite.


Um comentário:

Luciana disse...

Mais um deleite. Obrigado.
Bjsss