domingo, 14 de março de 2010

O Crupiê de Lembranças (DF 14/03/2010)


Passaram por mim

As priscas eras

E primaveris infernais outonos.

Ao abandono das folhas

Deixavam-me as caras companhias

Como os copos quebrados

Saudadeavam a cristaleira vazia,

De onde São Francisco

Tudo assistia.

Um olhar de barro

Sobre a poeira das ausências.

Os remédios sobre a cômoda

Dão-me a incômoda sensação

De estar trapaceando.

Ainda ando, trôpego,

Tropeçando nos degraus

Dos portais,

Os quais só notei

Depois dos setenta e muitos anos.

Ou mais.

Meu olhar embaçado

Tenta distinguir em fotos velhas

Os traços finos,

Idos da época em que o cristalino

Ainda não havia me traído.

Pergunto a Deus,

Aos anjos e santos

O que fiz para merecer isso.

O que fiz para viver tanto?

Não quero mais

Fazer parte da história.

Antes, jogava cartas.

Hoje apenas embaralho memórias.



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