Acordei velho.
Ontem não era.
Trocaram-me, dormindo,
Por esse corpo enrugado
Que me olha do espelho,
Nu, sem pêlo.
Sinto as gengivas baterem
No mesmo ritmo do frio
A maltratar minhas juntas.
Arrasto os pés pelo chão gelado
Até perto da cama.
Visto um pijama de flanela
Enquanto vejo, pela janela,
O jovem que eu era
Desaparecendo no final da rua.
Com as mãos trêmulas,
Pego papel e caneta
E vou até a escrivaninha.
Debruço-me sobre a folha.
Ela espera-me como uma virgem,
Pálida.
Nada.
Estou impotente ante seus apelos.
Da minha cabeça
Não brotam mais palavras,
Apenas caem ralos fios de cabelo.