terça-feira, 29 de junho de 2010

Enfim, um dia. (DF, 29062010)


Acordei velho.


Ontem não era.


Trocaram-me, dormindo,


Por esse corpo enrugado


Que me olha do espelho,


Nu, sem pêlo.


Sinto as gengivas baterem


No mesmo ritmo do frio


A maltratar minhas juntas.


Arrasto os pés pelo chão gelado


Até perto da cama.


Visto um pijama de flanela


Enquanto vejo, pela janela,


O jovem que eu era


Desaparecendo no final da rua.


Com as mãos trêmulas,


Pego papel e caneta


E vou até a escrivaninha.


Debruço-me sobre a folha.


Ela espera-me como uma virgem,


Pálida.


Nada.


Estou impotente ante seus apelos.


Da minha cabeça


Não brotam mais palavras,


Apenas caem ralos fios de cabelo.



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