Se a verdade nos libertará,
Libertemo-la primeiro
Arrumemos um habeas-corpus
Ou subornemos o carcereiro...
Aqui tem: Atualidades, idéias (doidas ou não), poesia, paixão, desejo, indignação, perplexidade, fé e muita fome de viver.
Acho que o sono não vem hoje.
O danado vai fazer fortait!
Deve estar por aí, na putaria.
Com certeza arrumou um affair,
Desses onde a gente se lambuza
Até o raiar do dia levar embora.
E eu sozinha, neste quarto onde nem a luz entra
- Minha angústia, parece, a apavora -
Percorro em reviravoltas quilômetros de lençóis.
Eles enroscados em meu corpo
Como a explorar meus contornos,
Aproveitando a oportunidade de estarmos a sós
Para procurar novidades
Por entre minhas protuberâncias e cavidades.
Desvencilho-me.
Meu sofrimento é corno, arredio, passional, perigoso.
O fastio não permite o gozo por um qualquer desejo abjeto,
Sequer derrama uma só gota de afeto.
Na boca reclama a azia desse tesão indigesto
Que atiça os miolos e me toma por escrava.
Outra vez fecho os olhos
O sono não vem
Só me vêm palavras.
Pudesse mandar-lhe um recado, diria agora:
Se vais chegar atrasado, nem dê-se ao trabalho de vir!
Ousa, e mandar-te-ei embora!
Pudesse ele ouvir, calaria em um sorriso
Por conhecer de mim tão bem por dentro e por fora
E saber o quanto dele preciso.
Almoçava calmamente, quando a TV do restaurante mostrou uma manifestação de repúdio ao ato criminoso do qual foi vítima o menino João. Na mesa ao lado, dois casais conversavam. Tão logo a reportagem começou a ser exibida, um dos homens, vestido com a camisa da seleção brasileira, bradou: “-De novo? Já não agüento mais isso, todo mundo agora quer aparecer!”. Lembrei de ter ouvido de um psicólogo a tese de que quem pratica atividades perigosas refuta em visitar companheiros acidentados. É admitir a indesejável proximidade da fatalidade. Aquele sujeito era metáfora perfeita de um país cujo único controle capaz de aliviar as mazelas é o remoto. Zapeamos em direção à segurança de uma minissérie, filme, videoclipe, daquele documentário sobre as – bem menos selvagens - savanas africanas ou até de uma reportagem sobre os conflitos no Oriente Médio, igualmente sangrentos, mas atenuantemente longínquos das nossas lágrimas nada ficcionais. Ok, admito: Nas manifestações sempre existem as pessoas que nem suspeitam do motivo da mobilização, mas gostam dos flashes, das câmeras. Mas, e daí? Tanta gente só aparece em escândalos, factóides, maracutaias ou – quase tão ruim - não aparece nunca, para nada. Pelo menos os surfistas deste tsunami de violência fazem número com os legitimamente indignados para uma causa justa. Penso com meus botões (não os do controle remoto): Será que o cara do restaurante cansa de rever os gols do último campeonato?
(18122006)
Fiz um blog só para histórias, pequenos textos, o "Textículos de Jó". Passem por lá também e deixem suas impressões. Será muito legal recebê-los na nova casa. Aguardo vocês!