
Acho que o sono não vem hoje.
O danado vai fazer fortait!
Deve estar por aí, na putaria.
Com certeza arrumou um affair,
Desses onde a gente se lambuza
Até o raiar do dia levar embora.
E eu sozinha, neste quarto onde nem a luz entra
- Minha angústia, parece, a apavora -
Percorro em reviravoltas quilômetros de lençóis.
Eles enroscados em meu corpo
Como a explorar meus contornos,
Aproveitando a oportunidade de estarmos a sós
Para procurar novidades
Por entre minhas protuberâncias e cavidades.
Desvencilho-me.
Meu sofrimento é corno, arredio, passional, perigoso.
O fastio não permite o gozo por um qualquer desejo abjeto,
Sequer derrama uma só gota de afeto.
Na boca reclama a azia desse tesão indigesto
Que atiça os miolos e me toma por escrava.
Outra vez fecho os olhos
O sono não vem
Só me vêm palavras.
Pudesse mandar-lhe um recado, diria agora:
Se vais chegar atrasado, nem dê-se ao trabalho de vir!
Ousa, e mandar-te-ei embora!
Pudesse ele ouvir, calaria em um sorriso
Por conhecer de mim tão bem por dentro e por fora
E saber o quanto dele preciso.
Um comentário:
Adorei esta poesia! Indentifiquei-me por completo, pois muitas vezes o sono não vem e tenho todos os tipos possíveis de pensamento.
Postar um comentário