terça-feira, 27 de março de 2007

Idéias preservativas.

Assisti a uma reportagem sobre o uso da camisinha. Coincidência ou não, foi exibida logo após a uma matéria cujo tema principal era o significado da palavra “hipocrisia”. Bem, a reportagem começava com um clérigo falando sobre a posição (!?) da igreja, notadamente contrária ao preservativo (afinal, sexo só com fins de reprodução!), e passava para um grupo de jovens com a mesma opinião. Escutei as justificativas e, admito, algo me incomodou (e não foi a camisinha). Uma certa miopia intelectual, a idéia de uma crença não admitir diferença. A certa altura da reportagem, em um grupo de discussão, um dos jovens argumentou que a campanha pelo sexo seguro e a educação sexual nas escolas incentivava a iniciação precoce e o sexo indiscriminado, e todos os outros concordaram. Rapaz, então estamos em perigo mesmo: seremos todos magérrimos de caráter, graças à ética dietética dos nossos políticos, e viciados, por conta da distribuição de seringas descartáveis para usuários de drogas. Tadinhos de nós! Precisamos sumir urgentemente com os rádios, aparelhos de TV, jornais, revistas, enfim, tudo capaz de influenciar nossa ruína, da propaganda daquele carro esporte, cujo único intuito é fazer nosso pé pesar sobre o acelerador até nos espatifarmos em uma árvore, ao biscoitinho de chocolate que conspira para o acúmulo de calorias, para o aparecimento da diabetes e de outros males advindos do excesso de peso. Vi uma arma na vitrine de uma loja de caça e estou doido para atirar em alguém. Lembra daquele filme onde os heróis ziguezagueavam por um campo minado? Pois é, Juquinha assistiu, pegou um avião para a África e acabou explodindo-se. Informação? Para quê? Não viram Equilibrium*? Informação incita a tentação! É o demo, transforma mentes em formação em mentes em deformação! A solução é colocar o livre-arbítrio em cana. Vamos nos interditar, assinando a declaração de incapacidade em gerir nossas atitudes ou de educar quem quer que seja. Quer dizer, assinar não vai dar (somos in-ca-pa-zes, esqueceu?). Será difícil arrumar tutores para tanta gente. Talvez o pessoal da entrevista não tenha percebido, mas não estavam abolindo a camisinha. Estavam apenas trocando-a de lugar.

*Nas locadoras. Recomendo.

4 comentários:

Unknown disse...

Mente ABENÇOADA, a SUA.
Bem no estilo...hehe
PARABÉNS!!!

David Lima disse...

é, conspiracao ou apenas gordura trans? hhehehe

Anônimo disse...

Adorei! A Igreja, ao lado de outros setores conservadores, se vale de argumentos pífios para não dar o braço a torcer e evitar uma modernização de seus valores e preceitos. É lamentável isso. Eu tenho amigas catequistas q transaram -- e mais do q eu, q sou agnóstica -- antes do casamento. Argh! Parece q essas pessoas tomam hipocrisia na veia diariamente, cara. Deprimente.

Naeno disse...

MULHERES DE SIM E NÃO

Há mulheres que dizem sim
E um não atrás, descarado,
Armas se o tempo fosse de guerra
Cobririam as suas bocas suas madeixas.
E o tempo urde para o que se contou
Ligeiro, que quem não come apressado
Comerá sobejo.
A mulher se deita, dizendo sim,
Sim que ama sim que quer,
Sim que mente enquanto puder.
Há mulheres que dizem não
E um não à frente deixa desencaminhado
O flerte, a boca, a descida brusca
Numa câmara lenta,
E repete não, e insiste não,
E deixa-se negando,
Até o sol nascer.

Um abração.
Naeno.

A campanha a favor do uso da camizinha nunca foi de bom gosto, nem de bom nível. Vejo uzarem todos os tipos de atores, globais, internacionais, mas nenhum tem acertado. Talvez pelo certo, de que ninguém se assegura dela, ou porque ninguém se segura quando era a vez dela.
Mas brincadeiras à parte é isso, nunca vi uma propaganda convincente, em favor de se evitar, seja a aids, ou qualquer doença sexualmente transmissível.
São frágeis, os atores que fazem aprecem não acreditarem. Quanto a posição da Igreja, pode ser mais uma que é apenas posta da boca pra fora, porque os dogmas quase todos caíram o que resta agora são regras, facilmente violáveis, e o clero sabe disso. O Santo Papa sabe e Deus sabe que os problemas do mundo são outros sérios, além deste.

Um abraço.
Visita o meu blog.
Naeno